Um
dia, ia eu com os pescarretas num minibus, pela estrada de terra que circunda a
albufeira da barragem dos Pisões, já para lá de Lama da Missa, quando
encontramos uma manada bovina à nossa frente que seguia no mesmo sentido. Aos
poucos os animais foram-se afastando para os lados, tendo ficado parada uma
vitela barrosã, prenha pela primeira vez, mesmo no meio do caminho, pata
traseira alçada a ameaçar coice, pescoço virado o suficiente para um olhar de soslaio.
Como o autocarro não avançava, a manada reagrupou-se e lá fomos atrás, a curtir
a lentidão e o bamboleio dos bichos. Nesse dia aprendi que os grupos podem ser
conduzidos por um elemento qualquer.
Outra
vez, num percurso entre Pitões das Júnias e Paradela, numa marcha lenta para
fruir das vistas, reparei num cão pastor que encetava uma perseguição ao jipe,
cheio de vontade de se lançar às janelas abertas. O condutor aumentou um pouco
a velocidade e fomos perseguidos pelo cão durante quilómetros. No banco de trás,
rodei o tronco para ver a corrida louca. A cada curva, perdia o cão de vista
mas por pouco tempo. A distância ia aumentando, mas lá vinha o cão a correr
quanto podia, a cortar as curvas por dentro, determinado a alcançar o carro.
Deixei de o ver num troço de curvas apertadas, com dores nos rins pela posição
torcida e muito depois, já para os lados de Salamonde, ainda me voltei para
trás… Ainda me lembro desse cão quando me quero convencer de que não devo
deixar de perseguir um objectivo só porque o perdi momentaneamente de vista.
Por
estes dias os canais de rádio e de televisão põem os ouvintes a dizer, em
directo, o que pensam dos cortes nos subsídios e nas pensões. Também se lhes
pergunta se acham que é com medidas destas que o país resolve os seus problemas.
Quase todos alinham as suas intervenções. O que se ouve nessas espécies de
grupos de discussão é consentâneo, não só entre os mais diversos intervenientes
como com a situação objectiva do país. Assim sendo, está tudo certo, e podemos
dizer que desses programas se pode extrair boas soluções para os problemas que
aí se põem. Logo, os problemas é que estão mal postos, e as perguntas não são
as que interessa ver-se respondidas.
Moral
da história – as coisas são como são; se nos colocamos mal perante uma coisa
qualquer, até podemos obter uma imagem correcta, pode é não ser a imagem do que
queríamos ver.
P.S. Se tem um pássaro preso numa gaiola, providencie-lhe
um pequeno espelho de forma que não se sinta tão só.
Pitões das Júnias |
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