terça-feira, 29 de janeiro de 2013
FORMAT C:
Mais-valia foi o termo a que Karl Marx deitou mão quando teve que dar um nome e relevância à diferença que encontrou entre o valor do que os trabalhadores produziam e aquilo que lhes era pago. Esta explicação pode não estar completamente fiel, não está com toda a certeza completa, mas é certo que “Mais-Valia” se refere a uma coisa da esfera do lucro, tanto mais que todo o contexto em que nasce é o de “O Capital”, uma série de livros de Marx, onde discorre sobre o Capitalismo.
Não é fácil, agora, identificar o momento ou as condições em que a expressão saltou literalmente para a rua e passou a ser usada fora do contexto natural. Tenho motivos para dizer que foi por meados do segundo governo de António Guterres, ano 2000, portanto. Por alturas do seu primeiro governo já uma outra expressão tinha sido incubada e dada “à saciedade” para uso indiscriminado; consistia em adjectivar tudo de “sustentado”, tomar todas as decisões de forma “sustentada” e fazer tudo “sustentadamente”. Maria de Belém Roseira, ao tempo ministra da saúde e depois “para a igualdade” (vemos hoje o sustento que o ministério teve) era dos que mais acarinhava e difundia os “sustentos” e deve ter sido, em todos os tempos, quem mais falou em coisas sustentadas. A coisa fez época, e passou.
Usei acima a expressão “à saciedade”, ela própria também teve a sua época, que situo em torno de 2002 – governo de Durão Barroso. Talvez devido às farturas distribuídas, sem qualquer sustentabilidade e com vista a uma igualdade que se tinha querido impor pelos governos anteriores, a expressão “à saciedade” de que Paulo Portas muito gostava, foi usada a fazer jus a ela própria, e desapareceu praticamente com o contexto político que a difundiu. Viriam a seguir os governos de Sócrates (de má memória e feliz afastamento), com ele veio o “ao invés” e muito português maltratado (deixo o sentido à escolha).
De trás de todas estas, dos anos 90, veio o “ir ao terreno/ estar no terreno/ conhecer o terreno”, hoje já usada com maior propriedade!
Voltando à “mais-valia”, em franco progresso, mesmo em tempo de todas as contenções, é usada e abusada e tida em muito boa conta, apesar da pejorativa nascença. Assim, um bom elemento é uma mais-valia, um benefício é uma mais-valia, uma beneficiação também, uma dádiva é uma mais-valia, a sorte também o é… enfim, mais valia que estivessem calados!
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