segunda-feira, 7 de março de 2011

Alegoria da mesa


Há alguns anos, fins dos 90 quando o futuro ia trazer tudo de bom, olhei para a frente e senti um certo desconforto. Nesse estado de reflexão, criei a “alegoria da mesa”. Servia-me dessa alegoria para ilustrar a minha descrença no caminho que se trilhava – a economia baseada no crescimento galopante e contínuo, massificação das licenciaturas, constrangimentos á produção, dependência das importações, destruição da agricultura e pescas e todo esse rol de desvarios que de 2011 olhando para trás se vê, mas que nessa altura poucos viam.
Consistia a alegoria da mesa, em convidar o meu interlocutor a fazer comigo o seguinte exercício: de forma virtual colocar sobre uma mesa tudo aquilo que tinha consumido ao longo do dia, olhar para tudo aquilo e avaliar se o trabalho que tinha desempenhado nesse dia, seria suficiente para compensar todo aquele consumo,
Era meu intuito demonstrar o gasto acima das possibilidades que então se instalava em quase toda a sociedade. Confesso que nunca fui muito bem sucedido – a maior parte das pessoas estava geralmente muito ocupada a consumir. O ambiente era de EXPO, o governo multiplicava-se em obra e promessas, e ainda se acreditava na competência de quem governava.
Nos dias que correm não uso a minha alegoria para nada. Para começar, não sei se o que a pessoa com quem falo vai pôr na mesa será suficiente para subsistir! Umas vezes teria pena, outras, medo por ela.
De mais a mais a minha alegoria nunca funcionou.

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