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Nestas lutas, que descambavam em caça ao homem, emboscadas e crimes de fogo posto, os partidos perderam todo o sentido da medida. Cedo se ficou com a impressão de que eles já mal se consideravam entre si como homens, semeando-se a sua linguagem de palavras ordinariamente só aplicadas aos parasitas, que importa a todo o custo destruir e exterminar pelo fogo. Só sabiam reconhecer o crime no campo oposto, pelo que era entre eles honroso o que no adversário era abjecto. Enquanto cada um considerava os mortos dos outros quanto muito dignos de ser enterrados de noite e às escuras, deviam os do seu campo ser envoltos no lençol de púrpura, devia ressoar o eburnum em sua intenção e subir nos ares a águia, levando até aos deuses a imagem viva de heróis e profetas.
Em boa verdade, nenhum dos grandes cantores, por mais que os aliciassem a peso de ouro, se dispôs a participar em semelhante profanação. Dirigiram-se então aqueles aos harpistas, que tocam nos bailes das romarias, e aos citaristas cegos que, diante dos triclinia dos lupanares, alegram os embriagados clientes com canções sobre a concha de Vénus e sobre o Hércules glutão. Campeões e bardos eram, pois, dignos uns dos outros.
É bem sabido, no entanto, como o metro é incorruptível. Os fogos da destruição não alcançam as suas colunas e os seus portais invisíveis. Não há vontade que se imponha à harmonia, e não passam assim de vigaristas que se defraudam a si próprios os que presumiam poder comprar oferendas sacrificiais com a dignidade do eburnum. Assistimos apenas à primeira destas exéquias, e tudo se passou exactamente como tínhamos previsto. O mercenário, de quem se exigia estivesse à altura sublime e ígnea matéria do poema, não tardou a gaguejar e a atrapalhar-se. Mas logo recuperou a fluência servindo-se dos iambos abjectos do ódio e da vingança, que sibilavam no pó. Presenciando este espectáculo, víamos a multidão ostentando as túnicas cor de púrpura que se envergam para o eburnum, e também os magistrados e o clero com as vestes talares. Outrora, quando a águia se elevava nos ares, fazia-se silêncio; agora, deu-se uma explosão de júbilo selvagem.
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Título original: Auf Den Marmorklippen
Autor: Ernst Jünger (1895 - 1998) - Escritor Alemão
Colecção: Escola de Letras - VEGA
Tradução, prefácio e notas: Rafael Gomes Filipe
2ª edição (1998)
Editor: Assírio Bacelar
Capa: Machado Dias
Obrigado. eu tenho uma apresentacao oral amanha e esse livro que eu nunca li vai servir
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