Astride já não está entre nós. No entanto não consigo falar dela no passado; tenho para mim que as pessoas que existiram existem para sempre, assim como as obras de arte, assim como os objectos sagrados, os animais amados e outras coisas.
A Menorah continua a iluminar o seu povo, o farol de Alexandria é hoje mais alto e vê-se a sua lanterna mais longe do que quando estava de pé, Jesus faz nos dias de hoje mais milagres do que quando tínhamos a possibilidade de lhe puxar pelas vestes, as pirâmides do Egipto apesar de esventradas e a esboroarem-se no deserto continuam a levar para o futuro os que as construíram, e mesmo quando já se confundirem com as dunas continuarão a ser pirâmides.
A casa de Astride ainda lá está, os seus vestidos continuam dependurados nos armários, o calor do seu corpo disperso na atmosfera exala de corpos de mulheres que repetem gestos que ela fez, de velas que se acendem em alguns dias do ano e do rosto de rapazes que deixam os olhos bater em mulheres como ela.
Hoje não consigo falar de Astride no passado, não consigo falar dela de forma nenhuma.
Sem comentários:
Enviar um comentário