ou:
O INFARMED a patinar no próprio lodo
O Governo, por intermédio
do Secretário de Estado da Saúde, publicou o Despacho n.º 7021/2013 de 30 de Maio – Reprocessamento de Dispositivos Médicos de Uso Único.
Não fosse a classificação “
de uso único” querer dizer o que diz realmente, eu já ficaria preocupado.
Havendo no país uma entidade, designada “Autoridade Nacional do Medicamento e
Produtos de Saúde”, que é o todo-poderoso INFARMED, triturador de mercados e
legítimo representante das Celestiais Instâncias Europeias na terra – que é o mesmo
que dizer, aqui, no protectorado – lá fui eu ver o que dizia a santa agência sobre
o assunto. Encontrei isto que se pode ler aqui, de 2005. É claro que em 2005 ainda tínhamos país com
soberania e tudo, andava a santa agência dedicada a encerrar fábricas de
dispositivos médicos, que mesmo que nunca tivessem provocado danos a ninguém,
pudessem por uma leve suspeição que eles lá tinham, vir a criar! Estavam a mando
da Mãe Europa a redesenhar o mercado, e a contribuir para isto – tudo isto, com
desemprego, miséria, reutilização de cateteres, tudo!
Ou estou a interpretar mal
tudo isto, ou o INFARMED está a ser desautorizado. É bem feito; se perderem
todos o emprego aprenderão pelo menos a recuperar o pouquinho de humildade que
tinham antes de lhes ser dada a oportunidade de beijarem as bordinhas das
vestes da inominável Europa.
Quando eu ainda era
fabricante de dispositivos médicos, apareciam-me lá na fábrica, com aviso ou
sem ele, inspectores de gabardine cinzenta. Chegavam invariavelmente num
automóvel HONDA, a gasolina (!), com chauffeur, vinham da capital. Teriam
partido no dia anterior, chegado ao destino pela tardinha, pernoitado num
turismo rural da região, e nunca tocavam à campainha antes das dez e meia ou onze
da manhã. Numa dessas visitas, o mais gordo e com aspecto mais repelente,
depois de se ter metido meia hora no WC junto à sala de reuniões, ter tossido e
espirrado de forma que nem o barulho da tecelagem, por baixo, conseguia
amortecer, ter gasto todo o papel higiénico e pedido mais, saiu de lá todo
suado a alegar a falta de um anti-histamínico… depois sentou-se e a propósito
de não me lembro o quê, perguntou-me seis ou sete vezes seguidas se eu tinha o
n.º de telefone do ministério da economia. Ele pronunciava “icunumia” e aí pela
terceira vez que fez a pergunta, seguidinha, a esbugalhar os olhos de suíno por trás de uns
fundos de garrafão, eu já não sabia, era se não lhe devia enfiar o enorme e
museológico aparelho de PBX, ali ao lado, pela cabeça abaixo. Pois, ainda
repetiu a pergunta mais quatro ou cinco vezes, seguidinhas!
Não, eu não vou contar
mais. Faz-me mal…
Agora há um tipo que
despacha que os dispositivos médicos de uso único podem ser reprocessados…
penso na sacro-santidade do INFARMED… no valor inalienável da saúde e no poder
magnífico dos seus sacerdotes… isto é tudo merda.
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