segunda-feira, 18 de março de 2013

Samarcanda


        
         - É sempre preferível que uma desgraça chegue tarde! Não conheces a história do burro falante de Nollah Nasruddine?
         Este último é o herói semi-lendário de todas as anedotas e de todas as parábolas da Pérsia, da Transoxiânia e da Ásia Menor. Chirine contou:
         - Dizem que um rei meio louco condenara Nasruddine à morte por ter roubado um burro. No momento em que vão conduzi-lo ao suplício, Nasruddine exclama: «Este animal é em realidade meu irmão, um mágico deu-lhe a aparência que vedes, mas se mo confiarem durante um ano ensiná-lo-ei de novo a falar como vós e eu!». Intrigado, o monarca manda o acusado repetir a promessa antes de decretar: «Muito bem! Mas se dentro de um ano, nem mais um dia, o burro não falar, serás executado.» À saída, Nasruddine é interpelado pela esposa: «como podes prometer semelhante coisa? Sabes muito bem que o burro nunca há-de falar.» - «É claro que sei», responde Nasruddine, «mas daqui a um ano o rei pode morrer, o burro pode morrer, ou então posso eu morrer.» a princesa prosseguiu:
         - Se tivéssemos sabido ganhar tempo, a Rússia talvez se atolasse nas guerras dos Balcãs ou na China. E depois o czar não é eterno, …
 
Título do original: Samarcande
Tradução de G. Cascais Franco
Autor. Amin Maalouf
(Distribuição de forma conjunta e inseparável com uma publicação do Grupo COFINA)
BIBLIOTECA SÁBADO
 

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