Triste acordo, que o não é!
Lembro a mensagem que aqui postei no dia 28 de Fevereiro,
em que trouxe o livro de Teilhard de Chardin “O Fenómeno Humano”, para trazer à
liça uma lacónica nota dos tradutores, impressa numa daquelas folhas para lá do
índice, páginas já sem numeração, a que ainda se segue uma outra que diz – Esta obra acabou de se imprimir na Imprensa
Portuguesa, no Porto, em Janeiro de 1970.
Eis a
tal nota:
Esta pérola convém ser levada em conta, quanto mais não
seja para se juntar ao facto de o Brasil nunca ter aplicado os anteriores
acordos ortográficos, nem o de 1931 nem o de 1945, e lembrar que há muito mais
a separar-nos além da ortografia. No caso da nota dos tradutores de “O Fenómeno
Humano”, se não tive dificuldade alguma com “verisímel” e “inverisímel”, já com
“evolver” mais facilmente teria entendido outra coisa diferente de evoluir!
Lembro-me de uma vez, a consultar o manual de um aparelho
de espectrofotometria, tradução do inglês para português do Brasil, ter tido
dúvidas sobre uma referência a “… diferir 45º do normal”; no original o que
estava escrito era “… diferir 45º da normal”. Naquele caso, tive a oportunidade
de me deparar com dificuldades provenientes de uma tradução incompetente, mas
principalmente, provenientes de liberdades e imprecisões linguísticas
incompatíveis com o texto técnico. Ainda hoje, quando o que está em causa são
livros técnicos e posso escolher entre uma tradução para espanhol e uma para
português do Brasil, escolho o espanhol.
Entendo que na defesa do Português como uma língua de
referência no mundo, se tente evitar que dela divirjam padrões, a ponto de se
ter que considerar línguas diferentes. Mas também sei, que a opção de agir
politicamente sobre os padrões, sendo que se trata da ortografia, é a forma mais
fácil mas mais falível de tentar atingir os intentos. Corresponde a, no intuito
de reduzir politicamente as diferenças entre ricos e pobres, declarar como
pertencentes à classe média todos aqueles que vão do salário mínimo até aos que
conseguem gastar em vida todas as suas posses. O problema, se se quiser
considerar problema, de o Português ter variantes, aparece logo de região para
região, do continente para as ilhas e de ilha para ilha. As diferenças na
grafia de determinadas palavras, não serão com toda a certeza mais importantes
do que a fria constatação de se ver grafadas uma série de palavras das quais
não se entende o significado.
Quem estiver familiarizado com a escrita em imprensa do
início do Séc. XX, saberá a variabilidade que caracterizava a escrita da nossa
língua por esses tempos. A estabilidade reconhecida na escrita do Português,
antes da entrada em vigor do (dito acordo) ortográfico de 1990, tinha um valor
imenso, do qual comecei desde logo a ter saudades, por ter a certeza que seria
o primeiro a sofrer consequências.
Em Angola já se diz que se Portugal não defende a própria
língua, a defendem eles. O Brasil, a quem se dirigia esta portuguesíssima
vontade de agradar, adiou para as calendas gregas a aplicação do que por cá se
continua a chamar “acordo”! Deparo-me com escritas como a da carta a mim
endereçada pela Administração Regional de Saúde do Norte (por motivo de
actualização da lista de utentes), onde é visível a vontade de obedecer ao AO,
mas faz conviver na mesma página as palavras: contacto, contatar e contato. A
ler a mesma carta soou-me mal a forma como li: receção, ativa, atualizar, e
outras.
Por mim, até preferia continuar a escrever “sciencia” e
“pharmácia”, do que me ver nesta situação, sem ter a quem pedir contas; os que
fazem disto, ou fogem, ou escondem-se atrás “da festa que foi”. Continuarei a escrever como sempre escrevi.
Se é por questões de simplificação, esqueçam. Não me mexam
na escrita das palavras, nem no som dos instrumentos musicais, muito menos
queiram tocar na minha inteligência.
Então já somos dois, Zé Maria!
ResponderEliminarConcordo com as evoluções que tragam benefícios à Humanidade, mas neste campo do último Acordo Ortográfico, não alinho e continuarei a escrever como aprendi.
É certo que as letras que não se pronunciam seria desnecessário escrevê-las, é um facto! Mas para mim um acto não é um ato...lol.
Beijinhos.
Pois é claro que não é a mesma coisa, assim como não parece nada bem que um filho do "Egito" - como querem agora - seja um egípcio!
ResponderEliminarBeijinhos.
Ai agora os egípcios são filhos do Egito???? Mas que coisa mais sem cabimento. Enfim. :(((
ResponderEliminarÉ verdade; é para ver no dá a simplificação! O conceito de "consoante muda" despertou numa cabecinha atormentada por uma antiga ignorância de família, que algum academismo (subsidiado) nunca conseguiu curar...
EliminarSinto o país parvo. Nas últimas décadas a massificação do ensino foi brutal, gastaram-se fortunas em formação, para se constatar agora que padecemos de baixos níveis de "literacia" (como agora se diz)!
Tá mau :(((