O FENÓMENO HUMANO
Pierre Teilhard de Chardin(escrito entre 1938 e 1940, sofreu "retoques" em 1947 e 1948)
Editora Herder – São Paulo
Filosofia e Religião (16º Volume) – Biblioteca fundada por Leonardo Coimbra
Livraria Tavares Martins, Porto – 1970 (3ª Edição)
Título Original: LE PHÉNOMENE HUMAIN (Éditions du Seuil, Paris)
Tradução portuguesa de LÉON BOURDON (Professor) e JOSÉ TERRA (Leitor), do Instituto de
Estudos Portugueses da Sorbonne
Os direitos
Extracto do RESUMO OU
POSFÁCIO
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1. UM MUNDO QUE SE ENROLA: OU A LEI
CÓSMICA DE
COMPLEXIDADE-CONSCIÊNCIA
Temo-nos
familiarizado ultimamente, na escola dos astrónomos, com a ideia de um Universo
que, desde há alguns biliões de anos (apenas!), teria vindo desabrochando em
galáxias a partir de uma espécie de átomo primordial. Esta perspectiva de um
mundo em estado de explosão é ainda discutida: mas a nenhum físico ocorreria a
ideia de a rejeitar como eivada de filosofia ou de finalismo. Não é mau ter sob
os olhos este exemplo para compreender ao mesmo tempo o alcance, os limites e a
perfeita legitimidade científica das concepções que aqui proponho. Reduzido,
com efeito, ao seu cerne mais puro, a substância das longas páginas que
precedem reduzem inteiramente a esta simples afirmação, que, se o Universo nos
aparece sideralmente como em vias de expansão espacial (do ínfimo ao imenso),
do mesmo modo, e ainda mais claramente, ele se nos apresenta, físico-químicamente,
como em vias de enrolamento orgânico
sobre si próprio (do muito simples ao extremamente complicado) – achando-se
este enrolamento particular «de complexidade» experimentalmente ligado a um
aumento correlativo de interiorização, quer dizer de psique ou consciência.
No
domínio exíguo do nosso planeta (o único até agora em que podemos praticar a
Biologia), a relação estrutural aqui notada entre complexidade e consciência é
experimentalmente incontestável, e desde sempre conhecida. O que confere originalidade
à posição adoptada neste livro é o facto de nele se afirmar, desde início, que
esta propriedade particular que possuem as substâncias terrestres de cada vez
mais se vitalizarem complicando-se cada vez mais não é senão a manifestação e a
expressão local de uma deriva tão universal (e excepcionalmente significativa)
como aquelas, já identificadas pela Ciência, que levam as camadas cósmicas não
só a alastrarem explosivamente como uma onda, mas também a condensarem-se
corpuscularmente sob as formas do electromagnetismo e da gravidade, ou ainda a
desmaterializarem-se por irradiação: achando-se provavelmente estas diversas
derivas (um dia o reconheceremos) estritamente conjugadas entre si.
Se
assim é, vê-se que a consciência, definida experimentalmente como efeito
específico da complexidade organizada, ultrapassa muito o intervalo , ridiculamente
pequeno, em que os nossos olhos conseguem distingui-la directamente.
Por
um lado, com efeito, mesmo onde valores quer muito pequenos, quer até
médios, de complexidade no-la tornam
estritamente imperceptível (quer dizer, a partir e abaixo das muito grandes
moléculas), somos logicamente levados a conjecturar em qualquer corpúsculo a
existência rudimentar (no estado de infinitamente pequeno, isto é,
infinitamente difuso) de alguma psique – exactamente como o físico admite e
poderia calcular as alterações de massa (completamente inapreensíveis para uma
experiência directa) que se produzem no caso de movimentos lentos.
Por
outro lado, precisamente nos pontos do Mundo onde, em consequência de
circunstâncias físicas diversas (temperatura, gravidade…), a complexidade não
chega a atingir os valores ao nível dos quais uma irradiação de consciência
poderia influenciar os nossos olhos, somos induzidos a pensar que, tornando-se
favoráveis as condições, o enrolamento, momentaneamente detido, retomaria logo
a sua marcha para a frente.
Observando,
insisto, segundo o seu eixo das Complexidades, o Universo encontra-se, no
conjunto e em cada um dos seus pontos, em estado de tensão contínua de
dobramento orgânico sobre si mesmo e, portanto, de interiorização. O que significa
que, para a Ciência, a Vida se acha desde sempre e por toda a parte em estado
de pressão; e que, nos sítios em que conseguiu romper de modo apreciável, nada
a pode impedir de levar até ao máximo o processo de que saiu.
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