Devo ter integrada em mim toda aquela moralidade implícita nos contos infantis que é suposto terem sido lidos por quem está entre os 40 e os 50. Isso e muitas outras moralidades que o final do século XX português produziu para ser a matéria da comunicação social sob censura, do ensino encarneirado, ou do politicamente correcto que foi ficando até hoje
Dessa moralidade, e da adquirida no fabulário, nas canções de ninar, nos dizeres do povo, na catequese e no exemplo das tias solteiras e no das casadas, sobrou a criança que fui, pelo lado da circunstância, porque pelo lado do “eu” não tenho o que pensar o que outra coisa poderia ter sido. Cedo decidi deixar a prerrogativa da infantilidade, refiz-me, mas não perdi a memória.
Estacar feijoeiros fez-me lembrar o conto do João e o feijoeiro mágico. Está muito longe a leitura dessa história, assim como a da Branca de neve e a da Cinderela e a da Princesa e a ervilha, mas sobre estas três últimas confundo muitas passagens e sobre a do feijoeiro mágico tenho-a esbatida mas em estado mais puro. Nunca confundi com nenhuma outra, a história do miúdo estúpido que aplica o provento da venda de uma vaca em feijões mágicos.
Não devia ouvir a TSF na horta, lá se vai a minha actividade depurante ao ar livre. Estacar feijoeiros a ouvir notícias e a apanhar sol na cabeça, induziu-me uma visão clarificadora e que guardarei como sinopse destes tristes dias:
- José Sócrates e o feijoeiro mágico. A história é igual à original, só que acaba logo que o moço chega ao topo do feijoeiro, para lá das nuvens. Não se chega a saber o que acontece depois, apenas que a planta é cortada por baixo pela própria pobre e velha mãe, inconformada com o destino dado ao dinheiro da venda da vaca. O moço não devia ter feito aquilo!
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