Eles ouvem mal, falam mal, têm opinião sobre tudo, cospem para o chão, não lêem, não param para ouvir, se param é à espera que o outro se cale para continuarem a falar, interpretam mal, reconhecem o próprio valor, tratam os direitos como armas, enumeram sem faltas os deveres dos outros, acham os reality shows instrutivos e até gostavam de participar, fina foi ela que trouxe embora 10000 euros e agora vai fazer uma tournée pelas discotecas do Oeste! Acham tudo normal, escrevem normal sempre entre aspas, levantam as mãos uma de cada lado da cabeça com os dedos indicadores e médios ao alto sempre que pronunciam a palavra e ela sai-lhes mais ou menos assim: “…nooormal”, raramente escrevem e usam o correio electrónico para reenviar umas coisas que lhes enviaram, conhecem uma boa meia dúzia de destinos exóticos, praias paradisíacas e discotecas non-stop e a próxima viagem vai ser mais cultural, talvez Paris, levar o miúdo à disneyland. Têm direitos adquiridos e chamam carreira à profissão. Crêem com muitas reservas num Deus e fazem vénias aos outros todos, acreditam que a culpa foi de um governo de há muitos anos, e escreveriam “de há muitos anos atrás”, mas não escrevem. Dizem “à séria”, “é assim” no princípio das frases, “sustentadamente” como as SCUTs, acham que a orientação sexual é uma opção, não distinguem os informados dos ufanos, os que de boa mente explanam dos que sofismam, têm uma opinião formada sobre qualquer coisa só nunca sabem o que lhes apetece comer, contam as calorias, acham de toda a importância que se saiba a diferença entre SIDA e HIV, querem os fumadores a quilómetros e a liberalização da marijuana, eles é anjos para tudo, signos do Zodíaco, orixás, auréolas auras e energias, reencarnações sucessivas, memórias de vidas passadas, cartas astrais, quiromancias, inglesas que falam com os espíritos em directo na TV. Gostam de dias quentes, mas tem de ser de canícula, qualquer nuvem lá no alto é uma grave pioria do estado do tempo, adoram desportos radicais, ginásio, desportos da neve, fazem surf, montanhismo, não sabem dar um nó numa corda e não percebem nada de física mas sabem que há atrito entre algumas pessoas. Eles têm muita admiração por civilizações que desconhecem de todo, em casa nunca falta um Buda, velas de chá, uma imagem de santo Expedito ou de Iemanjá Eles não querem saber porquê; eles querem saber o porquê!
Por vezes sinto um peso muito grande na cabeça!
Bom dia Zé,
ResponderEliminarEste texto lembrou-me Jean-Paul Sartre. De facto, "O inferno são os outros!"
Um beijo e bom domingo!
Mi