segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Caixa de Correio


Uma caixa de correio que não se abre durante uns meses pode conter uma quantidade admirável de papel, guarda a evidência da eficácia dos correios locais, espelha a pujança da grande distribuição na localidade, conserva as notícias de aberturas no pequeno comércio, etc.
As caixas de correio fechadas há muito, transformam-se então em cápsulas do tempo muito criteriosas e selectivas, compostas por diferentes estratos que se prestam a ser analisados um por um antes de se mandar tudo para o lixo.
De vez em quando tenho direito a uma caixa de correio bem cheia. Acerco-me munido de um saco plástico e rápida e discretamente transfiro tudo até ao último papelinho, fecho a porta e afasto-me – é que uma caixa atulhada denuncia uma casa abandonada e isso não é nada bom. Depois há que fazer uma triagem, meia dúzia de papeizinhos interessantes como o do homem que arranja persianas serão guardados, as revistas locais e as publicações promocionais mais cuidadas merecerão uma vista d’olhos, a comunicação de que a companhia das águas quer fazer uma leitura real do contador terá de ser atendida … e o resto vai para a papeleira da rua.
Entre os papeizinhos interessantes existem quase sempre notícias da mediunidade, astrologia e ciências ocultas locais; não custa nada fazer uma leitura mesmo que enviesada. Fica-se sempre a saber os “mestres” e “professores” que temos à mão e que, por exemplo, o mestre Mamadu partilha os telemóveis com o mestre Indjai e que ambos partilham o apartamento com o mestre Souane que dá pelo nome de “PROFESSOR MAZID”, assim mesmo entre aspas, o mais rápido que possível!



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