Jogaste desde novo pelos da cor do sangue, depois vieram os das vestes douradas e deram-te a mão, talvez para que eles mesmo mostrassem a tua cor no contexto deles.
Tu José, lá foste, e fizeste a vénia. Recebeste o ouro e os louros e ficaste grande. Assim do alto, as tuas palavras foram ainda mais longe, e as tuas dúvidas, e as tuas indignações, e as tuas ofensas.
Mas não foste todo, não! A parte dura manteve-se agarrada à terra, ao chão, à cor do sangue mesmo quando a confraria usa já opas doutra cor.
Dourado o ídolo fica-lhe na boca o vago, cavo – só se doura por fora
Assim que partiste voltaram os douradores, vieram os das artes, os das leis, os do circo, os embalsamadores, todos os funcionários do registo civil, antigas vestais, todos os secretários gerais.
Quem faltou foi notado.
È agora que te douram por dentro?
Longas exéquias se adivinham, o pó ao pó, as cinzas às cinzas, mas não é disso que se fala,
não se fala de coisas do tempo quando se fala de ti, José.
Deste-te não sabes a quê nem a quem e agora estás nas mão deles.
Terás o teu altar.
Terás o teu dia.
Terás a tua segunda vinda.
Enxertaram-te numa árvore e levaram-te à praça.
Vais ser publicado em folhas vivas, José.
Haverá ramos de oliveira cujas folhas são as tuas, és tu.
Tu, a ser comido e bebido, julgado e esmagado pela gentalha sedenta,
não de letras, José, de suplícios.
E se uma pomba, um dia, trouxer no bico um ramo de ti, significará isso que encontrou terra firme? Ou que entrada pela boca do Tejo, tenha a barca à deriva encontrado só Lisboa?
Como será ser tanta metáfora dos livros que te atormentam?
Guarda um lugar para mim aí, que eu também hei-de ir.
Se tenho preferência? À direita do Pai, José
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