domingo, 10 de março de 2013

Acordo Ortográfico?


Triste acordo, que o não é!

Lembro a mensagem que aqui postei no dia 28 de Fevereiro, em que trouxe o livro de Teilhard de Chardin “O Fenómeno Humano”, para trazer à liça uma lacónica nota dos tradutores, impressa numa daquelas folhas para lá do índice, páginas já sem numeração, a que ainda se segue uma outra que diz – Esta obra acabou de se imprimir na Imprensa Portuguesa, no Porto, em Janeiro de 1970.
Eis a tal nota:
Esta pérola convém ser levada em conta, quanto mais não seja para se juntar ao facto de o Brasil nunca ter aplicado os anteriores acordos ortográficos, nem o de 1931 nem o de 1945, e lembrar que há muito mais a separar-nos além da ortografia. No caso da nota dos tradutores de “O Fenómeno Humano”, se não tive dificuldade alguma com “verisímel” e “inverisímel”, já com “evolver” mais facilmente teria entendido outra coisa diferente de evoluir!
Lembro-me de uma vez, a consultar o manual de um aparelho de espectrofotometria, tradução do inglês para português do Brasil, ter tido dúvidas sobre uma referência a “… diferir 45º do normal”; no original o que estava escrito era “… diferir 45º da normal”. Naquele caso, tive a oportunidade de me deparar com dificuldades provenientes de uma tradução incompetente, mas principalmente, provenientes de liberdades e imprecisões linguísticas incompatíveis com o texto técnico. Ainda hoje, quando o que está em causa são livros técnicos e posso escolher entre uma tradução para espanhol e uma para português do Brasil, escolho o espanhol.
Entendo que na defesa do Português como uma língua de referência no mundo, se tente evitar que dela divirjam padrões, a ponto de se ter que considerar línguas diferentes. Mas também sei, que a opção de agir politicamente sobre os padrões, sendo que se trata da ortografia, é a forma mais fácil mas mais falível de tentar atingir os intentos. Corresponde a, no intuito de reduzir politicamente as diferenças entre ricos e pobres, declarar como pertencentes à classe média todos aqueles que vão do salário mínimo até aos que conseguem gastar em vida todas as suas posses. O problema, se se quiser considerar problema, de o Português ter variantes, aparece logo de região para região, do continente para as ilhas e de ilha para ilha. As diferenças na grafia de determinadas palavras, não serão com toda a certeza mais importantes do que a fria constatação de se ver grafadas uma série de palavras das quais não se entende o significado.
Quem estiver familiarizado com a escrita em imprensa do início do Séc. XX, saberá a variabilidade que caracterizava a escrita da nossa língua por esses tempos. A estabilidade reconhecida na escrita do Português, antes da entrada em vigor do (dito acordo) ortográfico de 1990, tinha um valor imenso, do qual comecei desde logo a ter saudades, por ter a certeza que seria o primeiro a sofrer consequências.
Em Angola já se diz que se Portugal não defende a própria língua, a defendem eles. O Brasil, a quem se dirigia esta portuguesíssima vontade de agradar, adiou para as calendas gregas a aplicação do que por cá se continua a chamar “acordo”! Deparo-me com escritas como a da carta a mim endereçada pela Administração Regional de Saúde do Norte (por motivo de actualização da lista de utentes), onde é visível a vontade de obedecer ao AO, mas faz conviver na mesma página as palavras: contacto, contatar e contato. A ler a mesma carta soou-me mal a forma como li: receção, ativa, atualizar, e outras.
Por mim, até preferia continuar a escrever “sciencia” e “pharmácia”, do que me ver nesta situação, sem ter a quem pedir contas; os que fazem disto, ou fogem, ou escondem-se atrás “da festa que foi”. Continuarei a escrever como sempre escrevi.
Se é por questões de simplificação, esqueçam. Não me mexam na escrita das palavras, nem no som dos instrumentos musicais, muito menos queiram tocar na minha inteligência.

4 comentários:

  1. Então já somos dois, Zé Maria!
    Concordo com as evoluções que tragam benefícios à Humanidade, mas neste campo do último Acordo Ortográfico, não alinho e continuarei a escrever como aprendi.
    É certo que as letras que não se pronunciam seria desnecessário escrevê-las, é um facto! Mas para mim um acto não é um ato...lol.

    Beijinhos.

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  2. Pois é claro que não é a mesma coisa, assim como não parece nada bem que um filho do "Egito" - como querem agora - seja um egípcio!
    Beijinhos.

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  3. Ai agora os egípcios são filhos do Egito???? Mas que coisa mais sem cabimento. Enfim. :(((

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    1. É verdade; é para ver no dá a simplificação! O conceito de "consoante muda" despertou numa cabecinha atormentada por uma antiga ignorância de família, que algum academismo (subsidiado) nunca conseguiu curar...
      Sinto o país parvo. Nas últimas décadas a massificação do ensino foi brutal, gastaram-se fortunas em formação, para se constatar agora que padecemos de baixos níveis de "literacia" (como agora se diz)!
      Tá mau :(((

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