sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Peter Gabriel - Mercy Street - Live in Milan 2003




Hosana


         
Deus que tudo dá, também dá santos para incréus.
Hosana nas alturas.


(Nunca deixei de ter em mente o Nelson Mandela quando escrevi isto. Ninguém há-de prender a atavismo nenhum um Homem livre; muito menos depois de morto,
Hosana nas alturas)

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Problemática dos Papagaios



         Compreendo se me disserem que o momento mais marcante na vida de um papagaio é a longa viagem desde a América do Sul. O simples homem da rua ao ver a ave palradora presa por uma pata a um curto cadeado, pensará naturalmente na tormentosa viagem da magnífica criatura, dentro de um caixote de madeira no fundo do porão escuro de um navio cargueiro. Nada mais despropositado; são ideias que as pessoas criam nos seus insondáveis cérebros.
         A primeira imagem que retenho depois de ter saído da casca, e creiam que estou a ser literal, é de um tipo de barba hirsuta, a fumar um cigarro (?) enrolado à mão. A ideia é vaga mas consigo distinguir nesta velha memória uma lâmpada incandescente por cima e uma cama de algodão em rama por baixo; à minha frente o tipo olha para mim e diz, respira puto, e já tinha nas mãos outro ovo rachado para ajudar a descascar. Tenho também uma memória auditiva de música tipo hard-rock, em que se canta ao ritmo das baforadas do que sei hoje ser um charro, inhale…, exhale…, inhale…, exhale... Mais tarde descobri tratar-se dos Rollins Band. Volto muitas vezes aos Rollins puxado por “Wrong Man”.
         Aqui, onde me encontro, limitado ao comprimento do guito que me ataram ao tornozelo, dou muitas vezes por mim a imaginar-me no que seria o meu meio natural e rodeado por um monte de tipos como eu - demolidor.  A simples ideia da minha imagem repetida, eu aqui e ali, e ali também, todos a fazer o mesmo saracotear e a deixar cair guano e cascas de sementes choca-me ao ponto de largar um som daqueles que não estão classificados como linguagem e que eu disfarço com simulado pigarro. Isso sim, é o que marca de forma indelével a vida de um papagaio, saber que poderia ser só mais um no meio de ninguém sabe quantos, sem anilha, sem prato de sementes, sem aulas de expressão vocal, sem um alpendre nem tão pouco um guito.
         O acto da minha abdução, ainda na forma oval, no meio da infindável selva, pode ter ficado registado. Juntamente com essas santas criaturas que abduzem ovos, outras há que as acompanham e filmam tudo. Pelo mesmo processo que os papagaios aparecem no mundo civilizado, aparecem também filmes que são vendidos não muito longe de onde se vendem papagaios.

         Ainda um dia hei-de encontrar o sentido disto. Assim que aprender a falar, a falar mesmo, vai ser mais fácil.

Imagem daqui

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

so long...


 

 
Come over to the window, my little darling,
I'd like to try to read your palm.
I used to think I was some kind of Gypsy boy
Before I let you take me home.

Now so long, Marianne, it's time that we began
To laugh and cry and cry and laugh about it all again.

Well you know that I love to live with you,
But you make me forget so very much.
I forget to pray for the angels
And then the angels forget to pray for us.

Now so long, Marianne, it's time that we began ...

We met when we were almost young
Deep in the green lilac park.
You held on to me like I was a crucifix,
As we went kneeling through the dark.

Oh so long, Marianne, it's time that we began ...

Your letters they all say that you're beside me now.
Then why do I feel alone?
I'm standing on a ledge and your fine spider web
Is fastening my ankle to a stone.

Now so long, Marianne, it's time that we began ...

For now I need your hidden love.
I'm cold as a new razor blade.
You left when I told you I was curious,
I never said that I was brave.

Oh so long, Marianne, it's time that we began ...

Oh, you are really such a pretty one.
I see you've gone and changed your name again.
And just when I climbed this whole mountainside,
To wash my eyelids in the rain!

Oh so long, Marianne, it's time that we began
 
Songwriters: COHEN, LEONARD
(from the album 'SONGS OF LEONARD COHEN') 

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Sagrado Light


     A ministra da justiça, a propósito de näo sei o quê, diz que para ela é sagrado; acrescenta que é agnóstica, e pede que a entendam, pois! No fim do que ouvi fiquei com a ideia que pretendia que o sagrado de um agnóstico fosse uma coisa ainda mais séria.
     Tudo bem, devo dar a outra face. Deverei também deixar de ser picuinhas - ninguém é perfeito, e quem quer ser ninguém?

Quase...


   O Benfica é um clube muito grande do qual se relata com muito entusiasmo os quase-golos. Depois também tem o Jesus que dá muito valor ao quase. Além de dar um valor muito massivo ao quase também sabe donde vem a culpa - é, sempre foi, do Roberto!

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Os Irracionais (?)



Sobre a Humanidade, já sabemos todos que a racionalidade não é o que melhor a caracteriza.
Sobre os outros animais, sabemos que também não, e também sabemos que não é pela irracionalidade que ficam bem descritos.
Entretanto descobrimos que os cães também são pessoas.

TOUR PARIS 13 / street-art & stop-motion.




quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Comunicação electrónica



Sempre apreciei nos cães aquela maneira que têm de fazer as coisas – os cães fazem o que fazem simplesmente porque podem, e pronto.
Com a Matilde estou a experimentar uma relação completamente nova. O chip que ela tem debaixo da pele, acima da omoplata do lado esquerdo, está associado ao meu nome, ao meu endereço, ao meu número de contribuinte e não sei a que mais.
Não tenho grande facilidade em manter conversas longas com ela; a qualquer momento prega-me uma lambidela e desanda para o seu mundo de cão.
Preocupa-me aquele bocadinho de tártaro que se está a acumular, e não sei como, deu-me vontade de ir escovar os dentes – os meus – e ao mesmo tempo senti uma pontada atrás, abaixo do pescoço!
Tenho-a à solta.

Espero que não faça asneiras.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

terça-feira, 27 de agosto de 2013

O Preço dos Automóveis



Jornal TEMPO    18-3-1982

Carregal (II)





O jardim do carregal tem um lago e uma pequena ponte. No lago vive um casal de patos, e à volta, há muitos pombos e, por vezes, gaivotas. Ali passeiam muitos cães com seus donos sempre atentos aos cocós.
O Hospital de Santo António e o Instituto de Medicina Legal, a ladear, fazem daquele jardim uma zona franca, ou território sagrado, com uma terceira saída para o trânsito da cidade.

De vez em quando, alguém lá vai deixar um stencil no chão ou nos bancos de cimento e depois foge; imagino que volte ao outro dia, sem cão, sem umas migalhas para os pombos, com os bolsos cheios de recados e as pontas dos dedos ainda sujas de tinta.